Matemática básica e uma pitada de história faz toda a diferença
Escrito em: 26/02/2016 por Anderson Dias
Como um pouco de contexto histórico facilita o aprendizado de assuntos complexos.
Na escola sempre existe uma, ou algumas matérias, que são mais difíceis de entrar na nossa cabeça. Química durante um bom tempo foi um vilão na minha vida. Para minha esposa, matemática.
Agora é início de ano letivo e ela volta a se dedicar às aulas particulares para crianças. Os primeiros dias são de revisão e naturalmente algumas olhadas na matemática básica são necessárias. Como era de se esperar, eu participo da preparação das aulas.
Adição, subtração, multiplicação e divisão. Ah… há quanto tempo deixei que a calculadora fizesse esse trabalho por mim? Dá para perder as contas.
Agora não basta só fazer. Preciso re-aprender a fazer como lá no início para poder explica-las. Sobe número pra cá, desloca número pra lá, desce esse aqui, subtrai aquele ali.
É tudo tão trivial. Tudo tão desafiador!
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Para minha esposa as coisas são um pouco diferentes. Enquanto pra mim tudo é um desafio, para ela é chato e cansativo.
Na sua infância a matemática foi apresentada sem razão de ser. Faça isso menos isso e tem que dar aquilo. A multiplicação funciona assim. E por ai vão surgindo mais e mais regras, tabuadas e afins.
Para mim não foi diferente, por isso odiava tanto a escola.
Quando me tornei adulto, decidi re-aprender tudo do zero, do meu jeito, com meus métodos e acabei criando a minha própria forma de pensar.
A matemática passou a fazer sentido. Física e química também.
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No fim da noite terminamos de rever todos os exercícios e algo especial aconteceu. Comecei a contar como a necessidade gerou cada operação da matemática.
Fizemos uma pequena viagem no tempo.
Sem computadores, calculadoras ou smartphones à vista. Tudo que se via eram campos verdes. Lá no alto do monte estava um pastor com suas ovelhas e ele precisava conta-las para nunca deixar uma esquecida.
Contando as ovelhas (original em https://flic.kr/p/9EVyCF)
Quando uma das ovelhas procriava vinham as novas ovelinhas, daí surge a adição. Quando outra delas morria, a subtração estava presente. As vezes ele precisava negociar com outro pastor e eles conversavam sobre valer o dobro do oferecido ou que só poderia comprar um quarto do rebanho, multiplicação e divisão.
Operações básicas, que surgiram da necessidade de expressar o mundo real e suas complexidades. Os símbolos que representam essas operações foram diferentes ao longo dos anos, mas as operações estavam lá, muitas vezes escritas na mente das pessoas, ainda que não existe papel ou escrita.
E, em algum momento que desconheço, surgem os que fazem as perguntas estranhas aos ouvidos comuns. “Se 1–1 é zero, quanto seria 1–2?” No mundo físico é difícil de compreender o conceito de números negativos. As ovelhas sempre acabam em um bom e redondo zero.
Parece inaplicável existirem números negativos, mas um belo dia surge a necessidade de anotar as dívidas de um sujeito em um comércio, o famoso fiado. Uma aplicação muito prática para o número negativo, concorda?
Assim, passamos alguns minutos imaginando como poderia ter sido a descoberta dos conceitos que estudamos na matemática: números, conjuntos, frações, geometria, e mais uma lista sem fim.
Imaginem como me senti ao saber que para minha amada a aula mais marcante de matemática foi de frações, onde cada aluno levou sua comida e dividiram as partes entre si.
De repente a chata matemática brilhou aos olhos dela.
Até eu me surpreendi em como os conceitos naturalmente evoluíram em minha mente enquanto a nossa ficção evoluía.
“A matemática teria sido muito mais interessante se alguém não me ensinasse somente as fórmulas, mas contasse uma história como essa, pois tudo faria sentido.”, foi o que ela me disse.
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As coisas ao nosso redor nem sempre foram como hoje estão, e no futuro poderão ser ainda mais diferentes.
Para alguns a percepção dessas mudanças passa simplesmente desapercebida e a complexidade inerente à evolução acaba dificultando o seu entendimento.
Um pouco de contexto de como tudo aconteceu pode abrir nossa mente e permitir que, enfim, passemos a entender por que as coisas estão da forma que agora as vemos e abrir um leque de possibilidades de como podemos melhora-las ainda mais no futuro.
Um pouco de história é sempre bom.