Rápido e devagar: os personagens da história


Escrito em: 02/02/2017 por Anderson Dias

Parte 1. Os dois sistemas

Capítulo 1: Os personagens da história

Apesar de possuirmos um só cérebro estudos demonstram que existem duas formas do cérebro operar: uma rápida, automática e quase imperceptível e outra forma complexa, dedicada e que demanda esforço.

Essa forma de compreender o funcionamento do nosso cérebro foi introduzida pelos psicólogos Keith Stanovich e Richard West e é a base deste livro.

Segundo os autores o nosso cérebro poderia ser dividido em dois sistemas de funcionamento:

“O Sistema 1 opera automática e rapidamente, com pouco ou nenhum esforço e tenham percepção de controle voluntário. O sistema 2 aloca atenção às atividades mentais laboriosas que o requisitam.” (p. 29)

Para demonstrar estas duas formas de pensar basta respondermos à estas duas perguntas:

Qual o resultado da operação: 2 + 2?

Uma criança com o conhecimento básico de aritmética seria capaz de rápida e automaticamente responder a pergunta sem necessidade de parar para raciocinar. Porque? Esta operação, por causa da repetição, se tornou algo de fácil acesso e nosso cérebro já possui atalhos que chegam à solução sem nenhum esforço.

Qual o resultado da operação 23 x 41?

Esta segunda operação demanda esforço e atenção para ser resolvida, a menos que estejamos lidando com uma pessoa com uma capacidade de resolução aritmética elevada.

Eis a importância da tabuada! A repetição evita que acionemos o Sistema 2 para operações cotidianas, evitando esforço.

O nosso corpo responde de formas diferentes a estes dois estímulos.

Em operações que utilizam o Sistema 1 nada de especial se nota ao precisarmos dar uma resposta. Já quando o Sistema 2 é envolvido é possível notar que uma tensão perpassa nosso corpo e é instantaneamente refletida em nossa íris (a janela de nossa alma, como cita o autor).

Outro ponto interessante é que:

“Quando pensamos em nós mesmos, nos identificamos com o Sistema 2, o eu consciente, raciocinador, que tem crenças, faz escolhas e decide o que pensar e o que fazer a respeito de algo. Embora o Sistema 2 acredite estar onde a ação acontece, é o automático Sistema 1 o herói deste livro.” (p. 29)

Este fato é largamente demonstrado ao longo da leitura do livro, onde o leitor passa a se conhecer melhor e enfim, percebe que não somos tão racionais quanto pensamos.

A verdade é que somos mais automáticos do que queremos parecer.

As responsabilidades de cada sistema e a sua forma de operar

O Sistema 1 é responsável por operações simples como entender os estímulos externos de nossos sentidos, tomar decisões triviais, responder a instintos de sobrevivência.

Ele funciona automaticamente, sem a necessidade de opera-lo, e inclusive é acionado muitas vezes quando devíamos estar usando o Sistema 2. Daí que surgem erros de julgamento e variadas tomadas de decisão erradas.

O Sistema 2 por sua vez precisa ser invocado de forma explicita. Conforme o autor explica:

“As operações altamente diversificadas do Sistema 2 têm uma característica em comum: elas exigem atenção e são interrompidas quando a atenção é desviada.” (p. 31)

E suas atividades possuem uma característica muito importante para seu bom funcionamento:

“Em todas essas situações, você deve prestar atenção, e você não se sairá muito bem, ou nada bem, se não estiver preparado ou se sua atenção for direcionada inapropriadamente.” (p. 31-32)

e:

“A expressão tantas vezes utilizada em inglês, pay attention, cabe bem aqui: você dispõe de um orçamento de atenção limitado para alocar às suas atividades e, se tenta ir além desse orçamento, fracassa. Uma característica das atividades que exigem esforço é que elas interferem umas com as outras, motivo pelo qual é difícil ou impossível conduzir várias delas ao mesmo tempo.” (p. 32)

Pensando sobre o assunto

De fato é notório que muitas coisas que fazemos são automáticas e sem pensar, enquanto outras demandam esforço.

Também é bastante interessante entender que nosso corpo reage em cadeia no momento que acionamos o Sistema 2.

Uma das coisas que rapidamente percebo é que a repetição é um dos mecanismos mais poderosos para transformar operações do Sistema 2 em operações automáticas do Sistema 1.

Vide o caso do 2 + 2.

Nenhum de nós nasce com este conhecimento, porém ao longo da infância esse processo exaustivamente repetido ao ponto que facilmente conseguimos resgatar a resposta em nosso Sistema 1.

O que me remonta à uma antiga forma de aprendizado utilizadas há muitos séculos principalmente com pessoas que não sabiam ler: a catequese.

Impregada extensivamente pela religião, notoriamente pelos cristãos, essa forma de ensinar se dava através da leitura e recitação dos mesmos textos de forma repetitiva e até exaustiva.

É uma técnica milenar de passar conhecimento e que é extremamente efetiva, e assustadora, se pensarmos que pode ser utilizada não somente para o bem, mas para o mal.

O que isso muda na minha vida?

Se na minha infância foi possível, através da repetição constante, transportar operações do Sistema 2 para o 1, então eu preciso utilizar deste mesmo mecanismo para novos aprendizados.

Não adianta ler somente uma vez e achar que novos conceitos serão concretizados em minha vida e mente, é preciso repeti-los até de fato aprender e vive-los.

O que me traz à memória uma frase que tenho repetido nos últimos anos:

“Repetir para aprender, repetir para viver e continuar repetindo para nunca esquecer.”