Rápido e devagar: atenção e esforço


Escrito em: 02/02/2017 por Anderson Dias

Parte 1. Os dois sistemas

Capítulo 2: Atenção e esforço

Atividades intensas demandam de nosso cérebro total atenção e isso se reflete em nosso corpo de diversas formas.

Nos estudos desenvolvidos por Eckhard Hess é possível perceber nas nossas pupilas uma dilatação automática quando é exigido que nosso Sistema 2 entre em operação, porém isso tem outros efeitos bastante interessantes.

Atenção que gera cegueira

“Descobrimos que as pessoas, quando ocupadas num tiro mental, podem ficar efetivamente cegas.” (p. 46)

Para exemplificar este fato Kahneman cita o caso do livro “O gorila invisível”, de Christopher Chabris e Daniela Simons, no qual é demonstrado que em estado de atenção é possível cegar pessoas.

No estudo as pessoas deveriam operar uma complexa contagem durante um jogo de basquete no qual a presença de um gorila na quadra era simplesmente ignorada pela maioria dos participantes.

Nosso cérebro como um circuito elétrico

Em outra analogia o autor cita que o funcionamento de nosso cérebro se assemelha à um circuito elétrico. Existe uma capacidade de fornecimento de energia e em geral o cérebro opera em baixo consumo dado que a maior parte do tempo o Sistema 1 está em ação. Ações que exigem mais esforço (Sistema 2) demandam mais energia do cérebro.

A grande diferença entre um circuito elétrico e nosso cérebro se mostra nos momentos de sobrecarga. O primeiro automaticamente se desativa para preservação dos aparelhos elétricos ao sinal de excesso de carga. A sobrecarga mental por sua vez é seletiva e escolhe a atividade de maior importância para dedicar a maior parte de sua atenção, alocando um orçamento limitado de capacidade de processamento para as demais atividades secundárias.

Esforço e especialização

Outro ponto muito interessante levantado é que:

“À medida que você se especializa numa tarefa, a demanda de energia diminui. Estudos do cérebro revelaram que o padrão de atividade associado com uma ação muda à medida que a habilidade aumenta, com menos regiões do cérebro envolvidas. […] Indivíduos muito inteligentes necessitam menos esforço para resolver os mesmos problemas. “ (p. 48)

O cérebro sempre irá buscar gastar menos energia para atingir qualquer objetivo pois estamos biologicamente preparados para aplicar a lei do menor esforço que:

“…determina que se há vários modos de atingir um mesmo objetivo, as pessoas acabarão por tender ao curso de ação menos exigente. Na economia da ação, esforço é um custo, e a aquisição de habilidade é impulsionada pelo equilíbrio de benefícios e custos. A preguiça é algo profundamente arraigado em nossa natureza” (p. 48)

Logo nossos cérebros irão desenvolver novas sinapses (caminhos) que permitam executar as operações com o menor esforço possível. É por esta causa que, à medida que nos especializamos em qualquer assunto, podemos, com muito mais rapidez e muito menos esforço, identificar padrões.

Uma pessoa experiente consegue com mais rapidez e precisão identificar comportamentos ou padrões anômalos em alguma atividade, seja social ou laboriosa.

Nosso cérebro irá sempre criar atalhos para reduzir o gasto de energia e é através da especialização que novos cursos serão traçados em nossas sinapses para que possamos alcançar uma melhor performance nas atividades.

Esforço e multitasking

As atividades do Sistema 2 possuem uma grande limitação: elas não trabalham bem em concorrência.

“Uma das descobertas significativas dos psicólogos cognitivos em décadas recentes é que passar de uma tarefa a outra é trabalhoso, sobretudo sob a pressão do tempo.” (p. 50)

Não fomos biologicamente preparados para dividir nossa atenção em tarefas que demandam muita energia. O próprio fato de passar de uma tarefa para outra já consome bastante energia.

Além disso:

“A pressão do tempo é outra motriz do esforço.” (p. 50)

Logo, além de sermos naturalmente limitados em lidar com múltiplas tarefas, outros fatores externos influenciam diretamente na proporção de energia utilizada na realização de tarefas complexas.

Diversos estudos demonstram que poucas pessoas de fato possuem a habilidade de trabalhar em multitasking. Isto ocorre pois a troca de tarefas opera em nosso cérebro uma operação de dump de informações.

Em uma analogia com o funcionamento de um computador podemos dizer que nosso cérebro, tal qual um processador, armazena em uma memória rápida (memória de trabalho) todos os materiais necessários para executar uma tarefa. Durante a troca de tarefas é necessário passar esses materiais para um outro espaço na memória, mais lento, e inserir em seu lugar outros materiais.

Conforme o autor explica:

“o ritmo pelo qual os materiais se desintegram na memória dita a velocidade, levando-o a redefinir e repassar a informação antes que ela se perca. Qualquer tarefa exigindo que você mantenha em mente diversas ideias ao mesmo tempo apresenta esse mesmo caráter urgente. A menos que você tenha a boa sorte de possuir uma memória de trabalho de grande capacidade, talvez você seja forçado a dar duro desconfortavelmente.” (p. 50-51)

e:

“Normalmente evitamos a sobrecarga mental dividindo nossas tarefas em múltiplos passos fáceis, relegando os resultados intermediários à memória de longo prazo ou ao papel, em vez de relegá-los à memória de trabalho, que fica facilmente sobrecarregada.” (p. 51)

Em suma, o nosso Sistema 2 demanda atenção e gera um alto gasto de energia. Suas atividades utilizam de um recurso limitado de memória.

Por causa da limitação de tamanho da memória de trabalho temos bastante dificuldade de realizar múltiplas tarefas ao mesmo tempo, especialmente sob pressão, que aumenta ainda mais o esforço para realizar uma determinada tarefa.

Pensando no assunto

Um ponto que me chama bastante atenção é a correlação entre atenção e esforço.

Quando estamos empenhados em atividades que demandam o uso do Sistema 2 precisamos dedicar total atenção ao nosso objetivo.

Foco demanda auto-controle e esforço, e o nosso cérebro
sempre buscará um escape nestas situações.

Como nosso cérebro evita esforço ele tentará encontrar um escape. Quando você está se esforçando para manter o auto-controle qualquer coisa vai te distrair. Beber água, café, ou dar uma olhada no celular e facebook. Tudo isso é uma fuga ao esforço.

Se você é distraído enquanto se esforça para manter o auto-controle provavelmente você aceitará a fuga.

Outra coisa que precisamos evitar é o multitasking.

Passar de uma tarefa a outra é trabalhoso, sobretudo sob pressão de tempo e hoje o multitask é quase um atributo esperado de todos nós.

Durante o multitasking as operações precisam ser jogadas em alguma “memória mais lenta” para que não sejam perdidas e isso custa muito esforço mental.

De acordo com American Psychological Association existem 3 tipos principais de multitasking:

  • Multitasking clássico: tentativa de executar mais de uma tarefa ao mesmo tempo
  • Troca rápida entre tarefas: sair de uma tarefa à outra em sucessão rápida
  • Troca de tarefas por interrupção: precisar ir de uma tarefa à outra antes de completar a primeira

No dia-a-dia de trabalho eu percebi que o último tipo é o que gera maior distração e é geralmente causado por fatores externos como: chamadas, chats empresariais, notificações de sistema e etc.

Em todo caso ter a atenção desviada durante uma tarefa, seja por interrupção ou por multitasking, é altamente improdutivo e custoso. E talvez o maior vilão de nossos tempos está bem próximo de nós: nosso celular.

Notificações de celular constantes estão
arruinando nossa produtividade.

Segundo estudo recente desenvolvido na Aalto University (Finlândia) as notificações que brotam de nossos smartphones gerão um loop de recompensa. É basicamente um vício onde a recompensa está no fato de atender a notificação o mais rápido possível.

Essas interrupções, conforme lemos acima, interrompem nosso fluxo de pensamento e deslocam a atenção para outro lugar. Nesse caso voltar à atenção se torna mais custoso.

Basicamente encontramos o desfarce ideal para o desejo de nosso cérebro de fugir da concentração nas notificações de nossos celulares.

Esse comportamento é tão forte e impetuoso que recentemente percebi que ouvir o barulho de uma notificação quando estou prestes a dormir é o suficiente para me reanimar por mais alguns minutos.

O que isso muda na minha vida?

Com tudo isto em mente eu decidi mudar diversas rotinas no meu dia para alcançar uma melhor performance em tudo que faço.

Eu preciso adquirir uma rotina saudável de uso de celular. Isso implica em:

  • Reduzir o número de aplicações no celular.
  • Utilizar redes sociais e canais de notícia, especialmente Twitter e Facebook, em computadores e em horários restritos.
  • Desligar notificações sempre que possível e ser notificado somente em situações realmente importantes.
  • Evitar deixar o celular por perto enquanto trabalho ou converso.
  • Colocar o celular em modo “Do not disturb” a partir de determinado horário, e só ser interrompido por razões de fato importantes.

Nos relacionamentos percebi que é cada vez mais importante me dedicar ao locutor integralmente. Isso é importantíssimo, principalmente na vida de casado.

  • Quando alguém falar com você dedique atenção completa à quem deseja ser ouvido.
  • Se não puder falar naquele momento informe-o disto e encontre o momento certo para ouvi-lo ou ouvi-la com atenção.

No meu trabalho buscarei novas estratégias que me levem a trabalhar com maior foco:

  • Evitar multitasking o máximo possível, tentando caminhar numa tarefa por vez indo do início ao fim da mesma sempre que possível.
  • Eu preciso interromper o mínimo possível as pessoas que trabalham comigo, por isso, ao invés de perguntar para outros a respeito de alguma dúvida, devo primeiramente buscar o máximo de informação a respeito do assunto e só chamar alguém no último caso.
  • Quando possível evitar programas de interação em tempo real como Slack, pois eles aumentam em muito a distração.
  • Desligar o máximo de notificações de mensagens chegando como: e-mails e bate papo em grupo.
  • Para evitar interrupções na equipe preferir sistemas de visualização de status mais do que perguntar o que cada um está fazendo e isto demanda uma prática de atualização constante de andamento do projeto por parte de toda a equipe.